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Mundial de Clubes 2025: o salto (ou abismo) do futebol sul-americano

Nova era do Mundial é vitrine e alerta para clubes da América do Sul

Começou oficialmente nos Estados Unidos, no dia 14 de junho de 2025, o novo Mundial de Clubes da FIFA, agora com 32 participantes e um formato que imita a Copa do Mundo de seleções. Só isso já seria suficiente para causar alvoroço. Mas a coisa vai além. A estreia desse modelo é uma chance rara — e possivelmente única — para que o futebol sul-americano se posicione no novo mapa global da bola.

Com seis clubes da América do Sul na disputa — Palmeiras, Flamengo, Fluminense, Botafogo, River Plate e Boca Juniors —, a pergunta que fica é: será que nossos times estão prontos para esse novo cenário?

Foto: Divulgação/FifaTroféu do Mundial de Clubes
Troféu do Mundial de Clubes

Formato global, ambição bilionária

O Mundial 2025 promete mexer com as estruturas tradicionais. Ao adotar um modelo com fase de grupos e mata-mata, a competição se aproxima da elite dos eventos esportivos mundiais. Não à toa, a premiação total chega a US$ 1 bilhão, algo inédito para torneios de clubes.

Cada clube sul-americano já garante de início mais de US$ 15 milhões pela fase de grupos. Pode parecer muito — e é —, mas ainda está distante das cifras europeias. O campeão, se vier da América do Sul com campanha perfeita, pode alcançar mais de R$ 570 milhões. Esse valor supera até o orçamento anual de muitos clubes grandes no continente.

Mais do que dinheiro: visibilidade e legado

O impacto do novo Mundial vai além do aspecto financeiro. Pela primeira vez, clubes da América do Sul estarão em uma vitrine global real, com jogos transmitidos para mais de 180 países, além da cobertura de plataformas como Globo, ESPN, DAZN, Sky Sports entre outros.

Isso significa que um bom desempenho pode resultar em:

  • Novas receitas com patrocínios internacionais
  • Venda de jogadores por valores muito mais altos
  • Fortalecimento da marca no mercado global
  • Criação de torcidas fora do Brasil e da América do Sul

Em outras palavras, clubes que antes estavam restritos ao mercado local agora podem virar players internacionais — desde que saibam aproveitar o momento.

O abismo que ainda separa os mundos

Claro, não dá para falar só das oportunidades sem mencionar os desafios gigantescos que os clubes sul-americanos enfrentam. Basta lembrar do massacre do Bayern de Munique sobre o Auckland City: 10 a 0. Um clube com orçamento bilionário enfrentando amadores. A imagem choca, mas também serve como um espelho.

Onde estamos nós, sul-americanos, nessa linha do tempo?

Embora Flamengo, Palmeiras e companhia estejam em outro nível técnico, a diferença estrutural em relação aos europeus ainda é brutal:

  • Falta de infraestrutura de ponta para treinos e análise de desempenho
  • Gestão ainda amadora em muitos clubes
  • Instabilidade política e financeira crônica
  • Problemas logísticos, inclusive para adaptação nos EUA

O risco da cópia malfeita: “europeização” sem base

Um dos maiores perigos dessa nova era é tentar copiar os clubes europeus sem ter estrutura. Não adianta trazer técnico estrangeiro, implementar software de análise e importar estilo de jogo se o clube não paga salários em dia e tem estádio caindo aos pedaços.

Muitos especialistas alertam: a tentativa de “modernização forçada” pode levar ao endividamento acelerado, afastamento do torcedor e, no fim das contas, ao fracasso esportivo. É preciso um plano de longo prazo — e não apenas seguir modismos.

Uma chance de ouro que pode não voltar

O novo Mundial pode ser o trampolim que o futebol sul-americano precisava. Mas também pode virar mais uma confirmação daquilo que tememos: que ficamos para trás.

Quer um exemplo prático? Imagine um clube como o Palmeiras, que vive um momento financeiro estável — ele pode, em caso de bom desempenho, fortalecer ainda mais sua marca globalmente. Por outro lado, times que ainda buscam consolidação administrativa, como o Botafogo, podem enfrentar mais riscos em um torneio desse porte, especialmente se os resultados não ajudarem. Mas é importante dizer: a minha torcida é para que todos os representantes brasileiros brilhem neste mundial.

O detalhe é que essa edição é só a primeira. O Mundial acontecerá de quatro em quatro anos. Ou seja: se perder o trem agora, a próxima estação pode demorar a chegar.

Reflexão final: qual é a década do nosso futebol?

Ver clubes da América do Sul enfrentando gigantes da Europa em igualdade de condições é um sonho antigo. Mas pela primeira vez, ele se desenha de maneira mais concreta. Só que o sonho precisa vir acompanhado de planejamento, humildade e — acima de tudo — realismo.

O Mundial 2025 é um termômetro cruel, mas necessário. Vai mostrar o quanto avançamos — e o quanto ainda estamos presos a um passado que não combina mais com o tamanho da nossa paixão por futebol.

Seja como for, o torneio já entrou para a história. Agora, cabe aos nossos clubes decidirem se querem fazer parte dela — ou apenas assisti-la do sofá.

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Resumo do artigo

  • O novo Mundial de Clubes tem 32 times e formato semelhante à Copa do Mundo
  • Clubes sul-americanos ganham visibilidade inédita e prêmios milionários
  • Desempenho pode alavancar marcas e receitas de clubes da América do Sul
  • Diferenças estruturais com a Europa ainda são enormes
  • Há risco de imitar modelos europeus sem ter base para isso
  • O torneio é uma oportunidade rara para reposicionar o futebol sul-americano

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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